Livro de Nilmário Miranda resgata a história de Teófilo Ottoni,
político contrário a favorecimentos, ao “beija-mão” e à bajulação
Priscilla Araújo Pena - prisap6@yahoo.com.br
Um ser humano que acreditou na sua capacidade, enfrentou adversidades de todos os tipos e não desistiu da missão em prol do desenvolvimento do Brasil. Esse foi Teófilo Ottoni, sobre quem não me recordo ter ouvido falar nos estudos de história do ensino fundamental e médio. É uma injustiça o fato de os livros escolares raramente ou nunca explicarem a contribuição de Teófilo Ottoni para a história brasileira, como ocorre também com tantos outros que foram verdadeiros revolucionários e não são sequer citados.
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O livro “Teófilo Ottoni – a república e a utopia do Mucuri”, do jornalista e vice-presidente da Fundação Perseu Abramo, Nilmário Miranda, poderia ser indicado aos estudantes, visto que apresenta uma linguagem acessível e uma história enriquecedora, com grandes realizações. Por meio de uma intensa pesquisa, que pode ser verificada na ampla referência bibliográfica do livro, o autor expõe detalhes de toda a trajetória sócio-política e profissional de Teófilo Ottoni, além de mencionar a importância das raízes políticas e da família na formação do seu caráter.
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Teófilo Ottoni nasceu em 1807 na cidade do Serro, Minas Gerais, e desde a adolescência já seguia os passos do pai e do tio, ambos políticos liberais que lideraram movimentos pela independência do Brasil. Nilmário ressalta que desde a época de estudante na Marinha, no Rio de Janeiro, Ottoni já defendia os ideais republicanos, era contra os privilégios da nobreza e lutava pela igualdade de direitos. Assim, fez campanha para reformar a Constituição outorgada de 1824, que aumentava os poderes de D. Pedro I, escrevendo artigos políticos em jornais da época, de circulação nacional. Como deputado da Assembléia Legislativa Provincial, Ottoni se preocupou com o desenvolvimento sócio-econômico de Minas Gerais. Rejeitou favorecimentos ou cargos políticos para os quais não tivesse sido eleito e, dessa forma, não foi ministro ou conselheiro.
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Ottoni era visionário e, assim, fez o projeto para o desenvolvimento do Vale do Mucuri, em Minas Gerais. Nilmário destaca que Ottoni agia sempre em combate à violência e tentava, durante a colonização do Mucuri, aliar-se aos indígenas, conquistando a confiança deles. Tinha intenção em fundar uma cidade aos moldes dos ideais da revolução americana.“Dar nome de Filadélfia (futura Teófilo Ottoni) à cidade que fundou nas selvas do Mucuri tem o sentido da inspiração na Revolução Americana. A Filadélfia americana de 1801, onde havia liberdade de culto assegurado no contrato com os colonos, a proteção da propriedade, o julgamento por júri popular, a pacificação dos indígenas”. Mesmo empobrecido e sem saúde devido ao desgaste com o desbravamento do Mucuri, Ottoni voltou à política e continuou a defender os direitos humanos até o fim de sua vida. “Participa do Manifesto do Centro Liberal, defendendo a reforma eleitoral, a reforma do Código Penal de 1841, a abolição do recrutamento obrigatório, a extinção da Guarda Nacional (usada para extorquir resultados eleitorais favoráveis à oligarquia) e a emancipação dos escravos”.
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Para quem apenas tem conhecimento acerca das informações “oficiais” da história brasileira, como datas de derrotas e conquistas de batalhas ou guerras consideradas “mais importantes”, a impressão é que os acontecimentos descritos no livro fazem parte da independência americana, tamanho ardor e obstinação de um homem na busca pelo desenvolvimento de um Estado, tendo sempre como objetivo o bem-estar comum. Por isso, a obra deve ser lida, principalmente, por aqueles que costumam dizer que não há ou jamais houve nacionalistas no Brasil.
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Acima de tudo, Nilmário Miranda mostra que Teófilo Ottoni é um exemplo a ser seguido como alguém persistente que não confundiu o poder com o abuso do poder, sendo, portanto, coerente à conduta, que teve durante a vida, em defesa dos direitos humanos. “Sua visão política, sempre um passo à frente de seu tempo, vanguarda destemida, porta-voz e artífice das mudanças e da transformação. Seu nome e sua vida ficam como legenda, a iluminar a memória do nosso povo. Conhecemos as contradições que marcaram sua vida. Não diminuem seu papel”, trecho do texto, contido no livro, também de autoria de Nilmário Miranda e pronunciado por ele – então deputado estadual – à Assembléia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), no ano de 1989.
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